Migração

A eterna saudade do carnaval de Recife

A “eterna saudade do carnaval de Recife” foi um post escrito em 2005, quando eu morei a primeira vez em Portugal.

O texto relata bem uma das muitas saudades que sentimos quando moramos fora. Alguns dias são bem difíceis mesmo, como natal e ano novo.

Hoje, de volta a viver aqui em Portugal, já tenho essa saudade mais quieta. Portugal tem muito mais brasileiros do que em 2005, e já existem muitas bandas. Até algumas tocam maracatus, o que vai amenizando essa saudade.

Deixo aqui o relato de uma dorzinha já bem distante, mas que fez parte de todo o processo vivido por esta imigrante:

“Essa noite sonhei que estava em Recife e que tinha chegado para as prévias do carnaval. Esses sonhos fazem muito mal, era tão real que eu acordei angustiada. Como disse hoje num email que mandei: carnaval de Recife pra mim é tão importante quanto passar ano novo com minha família, não falo da bagunça, isso a gente tem sempre aí ou aqui, falo da magia do carnaval de Recife, que só quem é recifense ou quem mora há muito tempo sabe do falo. 

Recife antigo e o Galo da Madrugada

É de sair a noite e ver as pessoas mascaradas ou fantasiadas no recife antigo, é de ir ao encontro daqueles blocos antigos, citados em músicas que parecem e que nem existirem mais, mas existem sim, estão todos lá!

Como dizia o Maestro Nelson Ferreira em sua Evocação nº1: “Bloco das Flores… Andaluzas…Pirilampos… Apôis Fun…Dos carnavais saudosos”. 

Engraçado que no sonho eu via o colorido das fantasias, pinturas, máscaras. Saudade dos camelôs vendendo fantasias, confetes, serpentinas… aquela bagunça pitoresca do centrão do Recife, que vai assistindo o galo da madrugada a ser montado em uma das pontes sobre rio Capibaribe e a avenida Guararapes mudando o trânsito para a decoração das ruas.

É lembrar das ruas do Recife antigo, onde dia a dia que se aproxima do carnaval vai surgindo um bloco aqui, outro ali. Chega uma hora em que tu olha a programação e queria estar em pelo menos 3 lugares ao mesmo tempo: uma parte de mim estaria na Rua Bom Jesus, outra queria estar no pátio de São Pedro ou no marco zero.

É esperar o sábado do bloco “Galo da madrugada” que mesmo com toda aquela confusão de gente, calor e agonia, pra mim era sagrado a ída ao Galo.

O carnaval abria quando eu tava debaixo daquele sol em plena ponte da Imperatriz sentindo ela balançar pra ver o primeiro carro alegórico com um galinho passar.

Sem falar dos preparativos com o povo lá de casa para ficar em um dos camarotes da rua da concórdia: era frango, cachorro quente, bolo, cerveja, azeitona… tinha de tudo. uma verdadeira parafernália!

Era preciso recuperar no sábado à noite porque a partir do domingo começava o velho ritual dos dias de carnaval que passava pelas ídas de dia a velha Olinda e na volta ficava pelo Recife antigo.

Nostalgia de imigrante

Isso parece coisa de quem deu valor quando saiu do país, mas não é, sempre amei o carnaval do Recife, sempre vibrei, era um ritual ir atrás dos adereços no mercado de São José, trabalheira de fazer fantasias. Era querer tá em todos lugares ao mesmo tempo.

Outro dia tava conversando no messenger com Duda, um dos criadores do Boizinho Alinhado (bloco), ele estava dizendo que esse ano (2005) o boizinho faz 10 anos e que ele ia para Recife (morava em Fortaleza), que tinha que ir lá, porque isso era sagrado, era uma coisa que ele queria deixar para os filhos, passar de geração a geração.

Certamente, o que me conforta hoje é que a magia do carnaval em Recife não vai acabar e um dia eu volto e esse sonho de hoje vai ser uma mera lembrança da saudade que hoje resolveu me assaltar, e aí eu vou cantar: Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço!”

Eu voltei mesmo no final de 2009, tive filhos e apresentamos às crianças o carnaval de Recife. Era sempre maravilhoso curtir as prévias com eles. E assim, a nostalgia nunca me abandona nessa época, mas eu sei que meu Recife está lá, como sempre esteve: colorido, pitoresco, animado e autêntico.

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Olá, eu sou Fabíola, brasileira nascida em Recife / Pernambuco, moro atualmente em Portugal. Migrei para a cidade do Porto a primeira vez em 2001 onde vivi por quase 9 anos. Voltei pro Brasil com meu marido Leandro, tivemos dois filhos, Tomás (12), Melissa (9) e voltamos a viver no Porto em janeiro de 2019 para uma “segunda temporada”. Aqui você vai encontrar nossas aventuras da primeira vez que moramos em Portugal, e também histórias dessa nova fase. Bem vindo ao nosso cantinho!