Viagens

Quando a gente foi em Liverpool

Quando penso na possibilidade de viajar, eu levo sempre em conta alguns desejos e porque não ser sobre sonhos também? Eu tenho muitos e alguns já realizei. Conhecer Liverpool era um deles. Desde os tempos de sessão da tarde na TV, onde assisti algumas vezes “febre de juventude”, claro, aliada a influência de um tio, onde comecei a ouvir as primeiras baladas dos Beatles ainda em disco de vinil, tinha esse sonho de ir à Liverpool, sentir de perto como tudo aquilo começou.

Ouvia falar que a cidade não era grande coisa, mas meu interesse lá era exclusivamente a história dos Beatles. E o que seriam de algumas cidades, assim como as pessoas, sem suas histórias? Liverpool pode não ter o glamour visual de uma Paris ou Veneza, mas também tem sua história, porque afinal são as pessoas que também fazem as cidades.

Quando surgiu a oportunidade de visitar uns amigos na Inglaterra, aproveitamos para incluir Liverpool e Manchester no roteiro. A cidade onde nossos amigos moravam que era Warrington, ficava entre as duas (mapa), melhor não poderia ser! Liverpool e Manchester foram escolhidas também pelo nosso amor ao rock britânico.

Quando viajamos, mesmo que sejam poucos dias, a gente sempre procura sentir a cidade, entrar em bares menos conhecidos, cafés ou simplesmente andar em ruas fora do circuito turístico. Em Liverpool não foi diferente, além dos tradicionais pontos turísticos, como o museu The History Beatles e o passeio com o Magic Mystery Tour, andamos bastante pela cidade.

No primeiro dia fomos ao Centro Cultura Royal Albert Dock, antigo complexo portuário que foi revitalizado. E lá estava o museu The Beatles History que conta detalhes da vida deles, em grupo e individualmente. Uma coisa chata que aconteceu em nossa visita é que cada sala que você entra tocava uma música deles, mas o problema é que estava alto demais e atrapalhou o que a gente estava ouvindo no audioguia. Mas mesmo assim valeu a pena, as reconstituições de músicas, locais, passagens da vida deles eram perfeitas.

Um dos locais conhecidos que também visitamos foi o The Grapes, conhecido pub frequentado pelos integrantes dos Beatles que costumavam ir lá beber antes dos shows no Cavern Club, ambos estão na mesma rua. Há rumores que o The Grapes era o “pé sujo” dos Beatles na época, hoje deve estar um pouco melhor.

No segundo dia resolvemos fazer o passeio mágico, o ônibus amarelinho “Magic Mystery Tour”, por sinal bem velhinho, foi o que nos levou ao subúrbio de Liverpool, local onde eles nasceram, cresceram, ou seja, onde tudo começou. Para entrar mais no clima, o ônibus também tinha música adaptada a cada local e um senhor simpático, que dirigia o ônibus, ía nos contando fatos do Beatles, foi como uma volta no tempo mesmo. Lembre que isso foi em 2007, os ônibus devem ter melhorado mas o velhote e suas histórias já não vão estar por lá.

Passamos nas casas onde eles nasceram. Foi estranho e ao mesmo tempo surpreendente ver lugares simples, uma casa qualquer, uma rua qualquer, sem glamour, mas saber que dali cada um deles saiu pra fazer história na música.

O dia estava, como quase sempre, escuro, cinzento, às vezes caía uma chuvinha típica de inverno, afinal era dezembro. Mas nem por isso a emoção era menos forte, não sei, às vezes parecia que eu não tinha caído na real, era mesmo a realização de um sonho! Estávamos visitando lugares que até então pra mim era só imaginação quando ouvia as músicas.

De repente, começa a tocar… “Let me take you down, cause i´m going to Strawberry Fields…” Pois é, era a chegada ao velho portão quase abandonado do Orfanato/parque “Strawberry Field”, mais emoção. Um portão vermelho, cheio de folhas forrando o chão, dando aspecto de completo abandono, mas foi ali que Lennon passou tardes da sua vida brincando no parque ao lado da mãe. Depois seguimos até à escola onde alguns deles estudaram e ainda vimos o pátio da igreja onde Paul e John se conheceram. Também é no cemitério dessa igreja onde reza a lenda que a música “Eleanor Rigby” era um dos nomes escrito em alguma sepultura. O próprio Paul diz que o tal nome só foi escolhido para combinar na música, mas o cemitério fazia parte do dia a dia deles naquele velho subúrbio.

E finalmente chegamos à Penny Lane street!! Uma rua como outra qualquer do subúrbio, parte movimentada e outra parte é residencial. Lá estavam ainda a Barbearia, o banco… citados na música, e claro, no ônibus o som era “Penny Lane is in my ears and in my eyes”… A placa da rua é agora apenas um nome pintado na parede, depois de tantas placas roubadas (história contada pelo senhor que dirigia o ônibus). Incrível que uma das músicas mais lindas deles retrata o simples, o dia a dia que eles viviam ali.

O passeio termina no famoso pub “The Cavern Club”. É realmente uma caverna, uma escadaria escura levou-nos ao pub subterrâneo onde eles fizeram as primeiras e mais de 200 apresentações sem nem imaginar o que estava por vir… Mais emoções, mais aquele pensamento: eu tou aqui mesmo?

A visita em Liverpool durou dois dias, quase sem luz sol, com aquela chuva fina, frio, como manda o “figurino” inglês. E como é de praxe, resolvemos parar a caminho da estação de trem e beber uma pint num pub, e que por acaso foi o “The Jacaranda pub”. Não podia ter sido melhor a coincidência.

Você pode ler esse texto ouvindo Penny Lane ou Strawberry Fields Forever.

About The Author

Comentários fechados em Quando a gente foi em Liverpool
Avatar

Olá, eu sou Fabíola, brasileira nascida em Recife / Pernambuco, moro atualmente em Portugal. Migrei para a cidade do Porto a primeira vez em 2001 onde vivi por quase 9 anos. Voltei pro Brasil com meu marido Leandro, tivemos dois filhos, Tomás (12), Melissa (9) e voltamos a viver no Porto em janeiro de 2019 para uma “segunda temporada”. Aqui você vai encontrar nossas aventuras da primeira vez que moramos em Portugal, e também histórias dessa nova fase. Bem vindo ao nosso cantinho!